Estou viajando numa xícara de café quente,
enquanto a colher gira, gira dentro da xícara.
Os cuidados com Santana do Ipanema
iniciam-se cedo, quando o sol despeja
as suas tintas que se derramam ricas
em casas de telhados velhos e esquecidos;
os cuidados com minha terra tem um quê
de condão e magia, e a luz solar que vaza
da janela do café aquece os meus dias.
Estou viajando numa xícara de café quente,
enquanto a colher gira, gira dentro da xícara.
A música desses dias de sol acalenta a xícara,
enquanto a colher gira, gira dentro do tempo
num preto e branco como nos filmes de Carlitos:
a mesa, as cadeiras, a janela, o quadro, a sala
têm um silêncio de eternidade do tempo da vovó;
o jardim calmo feito a esperança do mosquito;
a xícara me pede mais café e a lembrança tempo.
Estou viajando numa xícara de café quente,
enquanto a colher gira, gira dentro da xícara
num preto e branco como nos filmes de Carlitos:
a mesa, as cadeiras, a janela, o quadro, a sala
do tempo têm um silêncio de eternidade.
de Maria do Socorro Ricardo (1979).