UM DIA EM SANTANA DO IPANEMA
Maria do Socorro Ricardo, 2000

Amanhece em Santana do Ipanema
um amanhecer de Santana e sol
as cores que percorrem a cidade
solar cidade de pedras e ladeiras
há palavras que percorrem ruas
palavras sobrevoam essa manhã
uma manhã em Santana é de sol
nesse sol restam as palavras na cidade
palavras feito imagens em fotografias
um dia de imagens em Santana de sol
há luz na Avenida Barão do Rio Branco
Essa mesma Santana do Ipanema
das igrejas e orações e promessas
na mesma Santana do Ipanema 
do Grupo Pe. Francisco Correia
Santana do Ipanema pedrenta
em sua geometria sertaneja
dentro de arquitetura de pedras
são de pedras os seus caminhos
de suas procissões e promessas
ocultam-se na areenta natureza
seus versos em suas cores.

UMA TARDE EM SANTANA DO IPANEMA
Maria do Socorro Ricardo, 2001.



Essa tarde passa 
limpa, tranquila
é uma lâmpada 
sua luz na cidade
sobre as serras
as pedras brancas
escuras pedras
na mata o voo 
tranquilo e luminoso
eu vou a Santana 

Santana do Ipanema

dos poetas e louvores

Essa tarde atravessa

outras tardes e voos
feito serras de pedras
escuras pedras brancas
sobre as velhas serras




Santana do Ipanema

dos poetas e louvores

Nenhuma tarde 

nenhum dos voos
nenhuma das serras
as pedras, os morros
o Monumento
a Camoxinga
os bairros todos 
a cidade guarda-se
dentro da tarde

Santana do Ipanema

dos poetas e louvores

onde cada praça se olha

e para por um momento
é a tarde; está dormindo.


O SONETO DA FAZENDA AREIAS BRANCAS

Idades antigas, dos tempos heroicos,
vento nas folhas, serra com cachimbo
e em cambalhotas perde-se no limbo.
Em Areias Brancas, Zezito, um estoico.

Logo vencida a batalha do Peloponeso,
Zezito escreve nas pedras sem alarde;
vem de volta Zezito à fazenda à tarde
oricurizeiros espalhados, quietos, ilesos.

Tempo de mormaço nas Areias Brancas,
nuvens de chuva vêm e a porteira tranca;
Zezito, na rede, e o pé de vento avança.

Zezito, eis a eloquência, Calíope lhe diz,
na Física Quântica o tempo é só um triz;
e o velho no alpendre antigo se balança.

Maria do Socorro Ricardo e Zezito 
(José Cavalcanti Almeida), seu marido.


SONETO AVENIDA BARÃO DO RIO BRANCO

Santana do Ipanema cidade, na ladeira
nessa Avenida Barão do Rio Branco, 15,
....................................................
....................................................

Viva de carros................povo na feira
estava José Cavalcanti Almeida, Zezito.
......................................................
......................................................

A cidade...........................................
o povo..............................................
a feira..............................................

o sertanejo........................................
......na Avenida Barão do Rio Branco, 15,
.....Terra de Escritores..........................



UM SONETO AO SÁBADO

Amanhece Santana do Ipanema
e hoje amanhece outro sábado
um sábado de feira de poemas
em suas ruas dos versos alados.

É cedo. E cedo...........outro dia
..........cedo nas ruas da cidade
.....................outro dia à tarde
...............................quando ia 

..............................................
..............................................
..............................................

..............................................
..............................................
............em Santana do Ipanema.



EXPOAGROPECUÁRIAS SANTANENSES

Nas expoagropecuárias santanenses,
...................................................
...................................................
...................................................

Em Santana do Ipanema.................
Zezito..........................................
...................................................
...................................................

..................................................
..................................................
..................................................

......................................................
cidade da poesia, da música, da alegria
Santana...........................................





POEMA EM VERSOS LIVRES: SANTANA DO IPANEMA



Não é necessário cantar as ruas que oxigenam a cidade

as ruas da cidade têm os seus próprios cantares

Há uma rua e depois outra rua e elas comunicam-se

e nessa comunicação entre as ruas encontro Santana
Essa é a Santana do Ipanema que eu acompanho
passo a passo eu vou acompanhando as suas ruas
Num poema em versos livres: Santana do Ipanema
neste poema Santana do Ipanema dedico às suas ruas

As ruas de minha cidade são ruas de alegrias e festas

as festas que acordam as alegrias de minha cidade.


(poema de Maria do Socorro Ricardo, em 2008).







ESCOLA TRADICIONAL SANTANENSE

1

PADRE FRANCISCO JOSÉ CORREIA DE ALBUQUERQUE
no método Teatro-Feijão-Com-Arroz 
de Marcello Ricardo Almeida


peça do poeta e dramaturgo homenageado no Calendário Cultural Santanense, 2022, escritor e jornalista publicado na Revista de Teatro, da SBAT, RJ, 2002, 
Marcello Ricardo Almeida



PADRE FRANCISCO JOSÉ CORREIA DE ALBUQUERQUE
no método Teatro-Feijão-Com-Arroz 
de Marcello Ricardo Almeida


Personagens – Transeunte; Morador; Ator I; Ator II; Teresinha; Francisquinho; Padre Escultor; os Fulni-Ô; Dom Perdigão; Padre Francisco Correia.
Período – a ação passa-se hoje em Santana do Ipanema, quando alguém pede informação sobre um nicho da memória afetiva da cidade sertaneja.



SITUAÇÃO UM
FASE A – No palco, uma rua conhecida de Santana do Ipanema

TRANSEUNTE
Acaso sabe onde fica o Grupo Escolar Padre Francisco Correia?
MORADOR
Sei. Mas, não é mais grupo escolar.
TRANSEUNTE
Não? E onde fica?
MORADOR
Fica no Monumento. Mas, agora, é Escola Estadual Padre Francisco Correia.
TRANSEUNTE
Escola Estadual Padre Francisco Correia. É aqui perto?
MORADOR
Suba a ladeira.
TRANSEUNTE
E depois?
MORADOR
Passe à Prefeitura, desse lado, e depois uma praça do outro.
TRANSEUNTE
Uma praça e?
FASE B – Na plateia do Teatro-Feijão-Com-Arroz
ATOR I
houve um tempo no tempo de 1757
como em 1757 outros nasceram
na pequena Penedo daquele tempo
quieto às margens do São Francisco
ATOR II
no silêncio do velho canto Saboeiro
em outro tempo era o ano de 1787
e as águas do São Francisco trouxeram
o padre nascido em Penedo à Ribeira
ATOR I
em sua viagem de Penedo ao Sertão
Francisco Correia com nome de rio
com rio com nome de santo. Francisco
Correia como as corredeiras em alusão
ATOR II
Padre Francisco trazido pelas corredeiras
para construir na pedra a primeira capela
Padre Francisco um devoto de Santa Ana
ATOR I
o rio que corta como faca com sua água
corta rio com sua água escura de lâmina
escrevendo páginas na história de Santana
ATOR II
Padre Francisco Correia troca as cores
da sua Penedo pelo semiárido sertanejo
venceu Padre Francisco aroeira-do-sertão
caatingueira baraúna imburana-de-cheiro
ATOR I
qual Rio São Francisco também vencera
na grande seca de 1807 muitas histórias
de fome e tantas foram histórias de sede
ATOR II
e a morte levou Padre Francisco Correia
em 1848 escultor em peças de madeira
sabe que pássaro é aquele? não é uma ave?
é acauã! acauã? que vem acordar a manhã
ATOR I
e veio à história a história doutra história
e Santana do Ipanema educou o sertanejo
na cartilha do Grupo Padre Francisco Correia

SITUAÇÃO DOIS
FASE A – No palco, a infância de Francisquinho

TERESINHA
Ó Francisquinho!
FRANCISQUINHO
Que, mãe?
TERESINHA
Sai de cima dessa pedra, Francisquinho!
FRANCISQUINHO
Que, mãe?
TERESINHA
Tu vais te afoitar, o Rio São Francisco te pega, Francisquinho!
FRANCISQUINHO
Eu vou pescar, senhora minha mãe.
TERESINHA
Pescar, Francisquinho? E os estudos para ser padre?
FRANCISQUINHO
Vamos ter peixe no almoço, Dona Teresinha! Jesus ensinou a Pedro onde jogar sua rede. Aqui não tem peixe? O que importa é a fé.
TERESINHA
Ainda te vejo estudando Direito Canônico na Universidade de Coimbra.

FASE B – Na plateia do Teatro-Feijão-Com-Arroz

ATOR II
e a vida levou Padre Francisco Correia
padre-rio que corta quão faca com sua fala
corta rio com sua água escura de lâmina
escrevendo páginas na história de Santana.
ATOR I
e há 200 anos veio à história a história doutra história ida
na cartilha do Padre Francisco José Correia de Albuquerque
que bem ali na Ribeira do Ipanema soprou o barro e fez vida
ATOR II
era o ano de 1812
e Francisquinho
chegou para ficar
na velha Ribeira
ATOR I
o caboclo e o vaqueiro
o amarelo e o mentiroso
e o criador de cavalos
e o tangedor de burros
e o domador de gados
colecionador de urros
a mulher pia e os filhos
o encantador de vento
o monarca e o escravo
as abelhinhas e o favo
o trabalho e a preguiça
a liberdade e o látego
ouviam as rezas do padre
ATOR I
Padre Francisco fez amizade com povos Fulni-Ô
em terras de gado do velho Martinho Rodrigues
ATOR II
e nas terras sertanejas ditas terras de ninguém
de bravatas de brigas de viajantes aventureiros
o Padre Francisco Correia viajaria todo o Sertão
com nome de rio que viajava em leito de pedra
Francisco foi seu pai e franciscana a congregação
ATOR I
na porta da capela senta-se o Padre Francisco Correia com Fulni-Ô
e esculpe em madeira e enquanto trabalha compõe hinos de louvor

SITUAÇÃO TRÊS
FASE A – No palco, a oficina de escultura do padre

PADRE ESCULTOR
Sabe o que vai sair desta madeira, meu irmão?
FULNI-Ô
O que, senhor padre?
PADRE ESCULTOR
Um crucifixo.
FULNI-Ô
Crucifixo?
PADRE ESCULTOR
Esperem!
FULNI-Ô
Isso?
PADRE ESCULTOR
Estou compondo.
Vem, vem pecador
onde é que te escondes?
teu Senhor te chama
e tu não respondes?
responde a Jesus
que já é tempo
não confies na vida
que é transitória
da morte a lembrança
trazer na memória
e te chama desta cruz
quem chama é Jesus
FULNI-Ô
Jesus?
PADRE ESCULTOR
No princípio, Deus criou o céu e a Terra. A Terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas. Deus disse: “Que exista luz!” E a luz começou a existir. Deus viu que a luz era boa. E Deus separou a luz das trevas: a luz Deus chamou “dia”, e às trevas chamou “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia.
FULNI-Ô
Quem vai ficar preso a esse madeiro?
PADRE ESCULTOR
Jesus, o filho de Deus.
FULNI-Ô
E o que ele fez pra merecer esse castigo?
FASE B – Na plateia do Teatro-Feijão-Com-Arroz
ATOR I
à porta da capela, a enxó batia na madeira e o padre com os Fulni-Ô
em sua metafísica catequizava em sua catequese esculpia e pregava
ATOR II
aos habitantes ribeirinhos do médio rio Ipanema
Funi-Ô! Kariri! Cajaú! Carnijó! Iatê! Carijó!
todos juntos ao padre eram parte de um povo só
ATOR I
dos povos indígenas eram as árvores as aves
as pedras as águas e tudo o que a terra produz
ATOR II
este mesmo crucifixo do escultor
que conversa com povos Fulni-Ô
encontra-se no altar-mor da igreja
Matriz Nossa Senhora Santana
ATOR I
outros crucifixos e peças sacras
foram esculpidos em madeira
pelo Padre Francisco Correia
ATOR II
um fato do padre milagroso
no tempo das Santas Missões
o missionário franciscano
de nome Francisco Correia
como Francisco foi seu pai
e Francisco o rio em Penedo
antiga e nativa terra franciscana
ATOR I
o Brasil do tempo do Padre Francisco Correia
vivia o tempo da escravização do semelhante
e Aninha filha de escravizados na Vila de Propriá
criança ainda propriedade do Sr. José Sutero de Góes
ATOR II
os castigos do tempo de escravização
cantados por Castro Alves o tronco
o látego o pelourinho e o acoite
Aninha recebera a missão de sua ama
de levar ao padre nas Santas Missões
uma terrina de louça coberta num pano
ATOR I
correu e tropeçou a criança escravizada
porque havia um buraco em seu caminho
a terrina escapou de suas mãos de menina
ATOR II
quais castigos não receberia a pobre Aninha?
chibatadas lhe esperavam na casa de sua ama
ATOR I
senzalas e casarões alusões aos castelos medievais
a aristocracia burguesa como uma nobreza tardia
ATOR II
trêmula de medo a menina Aninha corre e tropeça
contando por certo ser castigada na casa grande
ATOR I
Padre Francisco Correia de Albuquerque
como alguns registraram os seus milagres
sabendo do ocorrido com Aninha escrava
Ana avó de Jesus Ana de sua devoção
Ana a santa que daria nome a Ribeira
de Ribeira para Santa Ana do Ipanema
ATOR II
disse o Padre Francisco Correia
Aninha junte os cacos da vasilha
una uns aos outros e cubra-os
novamente com a toalha de louça
ATOR I
a fé de Aninha foi tanta e a alegria
como tantos outros casos ocorridos
que Aninha ao chegar à casa grande
onde crime e castigo lhe seriam atribuídos
pôs sobre a mesa a terrina sob a toalha
e a descobriu e estava inteira quanto era
ATOR II
Padre Francisco Correia abriu muitas Santas Missões
devotos viajavam léguas para lhe ouvir as prédicas
ATOR I
Brejo Grande conheceu o missionário Francisco Correia
e também Girau do Ponciano e a Barra do Ipanema
e Palmeira dos Índios e Águas Belas e Recife e Olinda
e Pacatuba e Propriá e Porto da Folha e São Brás e Quebrangulo
e Ribeira do Ipanema e Penedo e Papacaça e Junqueiro
e Poço das Trincheiras e Anadia e Flores e Bezerros e Ingazeira
e Baixa Verde e Serra Talhada
ATOR II
foi no ano de 1838 que o Padre Francisco Correia
pacificou os sebastianistas conhecidos revoltosos
da Pedra do Reino Encantado de Dom Sebastião

SITUAÇÃO QUATRO
FASE A – No palco, na igreja de Dom Perdigão

DOM PERDIGÃO
Padre Francisco Correia, neste ano de 1835, a paróquia de Flores o terá como vigário.
PADRE FRANCISCO CORREIA
Dom João Marques Perdigão, aqui, eu ouvi falar no profeta João Ferreira.
DOM PERDIGÃO
Aquele chefe de seita fez morrer, aqui em Pernambuco, mais de 50 fanáticos em terrível sacrifício.

FASE B – Na plateia do Teatro-Feijão-Com-Arroz

ATOR I
contam os biógrafos do padre
que Dom João Marques Perdigão
com ajuda de chefes políticos locais
confiou ao Padre Francisco Correia
o rebanho da paróquia de Flores
e foi o Padre Francisco Correia
quem pacificou a região zangada
pondo fim à seita de João Ferreira
ATOR II
lutou o padre a boa luta
lutou Francisco Correia
contra muitos adversários
de El-rei o Dom João VI
ATOR I
outro ano o Padre Francisco José Correia de Albuquerque foi eleito
membro do Conselho Geral do Governo da Província de Alagoas
ATOR II
Padre Francisco José Correia de Albuquerque
Deputado Geral das Alagoas apresentou projeto
criava a Freguesia de Santana da Ribeira do Ipanema
ATOR I
o arquiteto o pintor Padre Francisco Correia o construtor
erguera capela em Limoeiro de Anadia e também em outras vilas
foi dele a primeira capeta de Santana que hoje é a Igreja Matriz
ATOR II
o padre falecido em 1848
foi sepultado na Capela
de Nossa Senhora do Rosário
em Bezerros Pernambuco
e muitos foram os prodígios
do Padre Francisco Correia
ATOR I
no fim dos tempos idos de 1937
o interventor Osman Loureiro decretou
chamar uma escola em Santana do Ipanema
de Grupo Escolar Padre Francisco Correia

SITUAÇÃO DERRADEIRA
FASE ÚNICA – No palco, na mesma rua do princípio em Santana

 MORADOR
Como é engraçado quando se chega a uma cidade e se pergunta sobre um lugar e ninguém sabe onde ele fica. Entendeu onde fica o velho Grupo Escolar Padre Francisco Correia?
TRANSEUNTE
Não só entendi como sei parte de sua história.
MORADOR
Tudo tem uma história.
TRANSEUNTE
E sempre fica mais fácil, quando se conhece a história.