Santana do Ipanema vejo-a de minha janela

da janela de minha casa admiro os barcos que viajam pelo universo e
o som dos pássaros presos em gaiolas gorjeiam sobre o tempo eterno

como se constroem barcos se constrói vida como se construíssemos
o silêncio do universo em páginas de cadernos de linhas e palavras

estou diante de um sábado de feira em Santana do Ipanema de 1970
onde o mercado divide-se em mercados e cada mercado há um preço
os pés das pessoas vencem as distâncias entre velhos e vazios planetas
há frutas na natureza morta que se desenha numa jarra presa à mesa
e o vaivém de silêncios entrecortados acordam os pássaros nas gaiolas


MARIA DO SOCORRO RICARDO - compôs este poema em 1970